DECAM - Dinâmicas Econômicas e Culturas Alimentares na Maré
O objetivo do projeto é entender como as pessoas se alimentam, como obtém, cozinham, guardam, compartilham e, eventualmente, vendem comida. Observamos essas dinâmicas a partir das casas e das relações entre casas que ocorrem por meio da circulação de comida. Com a pesquisa queremos contribuir com uma perspectiva nova sobre segurança alimentar e nutricional que tem como foco a maneira como os alimentos circulam localmente, levando em conta as interseções entre as formas de ganhar, gastar e guardar dinheiro e a alimentação, assim como os valores sociais e culturais ligados a ela, especialmente as relações familiares e de vizinhança. Este é um projeto realizado em parceria entre a Redes da Maré e o Núcleo de Pesquisas em Cultura e Economia, NuCEC, sediado na Universidade Federal do Rio de Janeiro. Por isso, todas as atividades, desde a construção da proposta, desenvolvimento da metodologia, até o trabalho de campo, assim como sistematização e as análises, são realizados por uma equipe composta por pesquisadoras e pesquisadores de ambas instituições. Em todas as fases da pesquisa se entrelaçam os interesses científicos e a garantia de direitos das moradoras e moradores da Maré. Guardadas as especificidades de atuação e as distintas responsabilidades institucionais, a colaboração é o compromisso fundamental deste projeto. Além da produção de conhecimento, pretendemos desenvolver uma metodologia replicável que possa ser usada em toda a Maré e em contextos urbanos periféricos de maneira geral. Ela se baseia na junção de uma perspectiva etnográfica e, portanto, qualitativa, com instrumentos de coleta de dados sistemáticos. O desafio é nos aproximar o máximo das maneiras como as pessoas e as famílias vivem, com atenção às especificidades e à diversidade da Maré e, ao mesmo tempo, produzir dados que possam ser tratados de maneira agregada e que permitam comparações. Também nos propomos a contribuir para a melhoria e construção de ações e projetos de combate à insegurança alimentar e nutricional tanto em âmbito local quanto para políticas públicas. A pesquisa se inicia com visitas domiciliares em unidades territoriais com características infra estruturais e socioeconômicas distintas para a aplicação de um questionário que exprime as inovações metodológicas do projeto. A partir da identificação das redes domiciliares e o mapeamento dos circuitos alimentares expandiremos territorialmente a investigação de campo na Maré. Entre os resultados esperamos construir textos analíticos coletivos e individuais, acadêmicos e de circulação ampla, além de um relatório específico com sugestões para ações de enfrentamento à insegurança alimentar. Existem ótimas pesquisas sobre segurança alimentar no Brasil. Elas consideram os domicílios - unidades em que se baseiam as pesquisas do IBGE, por exemplo - como entidades relativamente isoladas e, principalmente, como unidades de consumo final. O que sabemos é que de muitas casas a comida vai para outras, além do comércio de alimentos ser um tipo importante de atividade econômica em bairros populares como a Maré. Essa circulação dos alimentos entre as casas faz parte das maneiras como os laços entre parentes, amigos e vizinhos são construídos e se mantêm, incluindo aquilo que circula como ajuda em tempos de dificuldade. A renda gerada pela venda de alimentos é crucial para muitas famílias e, por outro lado, garante acesso a comidas mais baratas, perto de casa e ao gosto das pessoas. Queremos tornar essas relações visíveis e compreender como elas participam na segurança alimentar das pessoas na Maré, tanto em termos da quantidade necessária de comida para garantir a sobrevivẽncia das pessoas, quanto no que diz respeito à característica dos alimentos, sejam elas nutricionais ou culturais. Assim, poderemos somar esforços na compreensão da alimentação em termos amplos e da construção de ações de enfrentamento à fome e à insegurança alimentar. Este projeto é o desdobramento de uma pesquisa realizada entre 2020 e 2022 chamada "Dinâmicas econômicas na Maré em tempos de pandemia". Esta foi a primeira parceria entre as duas instituições, quando foram realizadas entrevistas remotas com dezenas de moradoras e moradores para entender como as famílias estavam enfrentando a crise sanitária. Estudando na ocasião a relação entre as casas e os negócios, ficou evidente a importância do aumento do custo de vida e da segurança alimentar como problema para as pessoas e as famílias. Resultados dessa primeira iniciativa serviram como base para a construção deste projeto. |
Equipe: Alexandra Dias Ananda Viana Brauner Cruz Bruno Guilhermano Cristiane Maciel Eugênia Motta Federico Neibrug Katia Bezerra Livia Romano Maria Fernanda Aguiar Patricia Ramalho Thais Lopes Victor Soares |